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Kleber Mendonça Filho: "Ruínas dizem muito sobre a perda de algo que não volta mais"

Em entrevista à Headline no fim de agosto, poucos dias antes de “Retratos Fantasmas” ser escolhido como candidato à vaga de filme internacional brasileiro no Oscar 2024, o diretor comentou importância das salas de cinema

Gaía Passarelli , da Headline | São Paulo
#CINEMA8 de set. de 234 min de leitura
Marquise do Cine São Luiz, em Recife, em cena de "Retratos Fantasmas". Foto: reprodução/Vitrine Filmes
Gaía Passarelli , da Headline | São Paulo8 de set. de 234 min de leitura

Anunciada no fim de agosto pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Visuais, a lista de filmes candidatos à vaga na categoria Melhor Filme Internacional no Oscar 2024 tem seis produções:

  • "Retratos Fantasmas" (Kleber Mendonça Filho)

  • “Nosso Sonho – A história de Claudinho e Buchecha” (Eduardo Albergaria)

  • “Urubus” (Claudio Borrelli)

  • “Noites Alienígenas” (Sergio Carvalho)

  • "Pedágio” (Carolina Markowicz)

  • “Estranho Caminho” (Guto Parente)

Uma lista tão diversa em temáticas e formatos é indicativa do bom momento do cinema nacional. “Urubus”, filme de Claudio Borreli (leia entrevista com o diretor) que ficou mais de uma década em produção, trata do universo dos pixadores de São Paulo. “Noites Alienígenas” é um dos filmes mais interessantes desse ano, uma história sobre facções criminosas na capital do Acre, Rio Branco. “Pedágio”, de Carolina Markowicz, acompanha uma mãe que trabalha para custear a “cura gay” do filho por um pastor evangélico vigarista. “Estranho Caminho” se passa em Fortaleza durante a pandemia de covid19. “Nosso Sonho – a história de Claudinho e Bochecha” é a cinebiografia da mais importante dupla do funk brasileiro. E “Retratos Fantasmas”, obra documental de Kleber Mendonça Filho (“O Som ao Redor”, “Bacurau”, “Edifício Aquarius”), se destaca como provável favorito pela própria temática: é um filme sobre o amor aos filmes.

Mendonça, que está rodando o mundo exibindo “Retratos Fantasmas”no circuito de festivais, concorda. “Retratos Fantasmas’ é um filme que fala sobre o cinema. Hollywood está se olhando e repensando essa relação com a sala de cinema depois da pandemia e da chegada do streaming, e acho que esse é um filme que se encaixa muito bem num cenário de discussão que o mundo está tendo nesse momento”, avalia.

O favoritismo também é justificado pela bem-sucedida carreira de “Retratos Fantasmas” até agora. O filme abriu o Festival de Cinema de Gramado desse ano, entrou em cartaz simultaneamente em Brasil e Portugal e já é o documentário mais visto dos últimos cinco anos no Brasil, com mais de 35 mil espectadores. Em outubro, será lançado nas salas da Espanha e, em novembro, nos cinemas da França e Estados Unidos.

No circuito internacional de festivais, teve estreia mundial em Cannes, dentro da seleção Special Screenings e está confirmado em segmentos especiais dos festivais de Toronto (TIFF) e Nova Iorque (NYFF).  Tudo isso pesa na hora de decidir quais filmes devem ocupar as cinco vagas disponíveis para filmes internacionais — ou seja: produzido fora dos Estados Unidos com diálogos predominantemente em uma língua diferente que não seja inglês. “Nós, como produtores, inscrevemos o filme para ser submetido ao crivo da Academia Brasileira de Cinema como representante do Brasil no exterior, por acharmos que é o filme com a maior visibilidade esse ano,” aposta o diretor.

Cartaz de "Retratos Fantasmas"
Cartaz de "Retratos Fantasmas" | Foto: divulgação/Vitrine Filmes

“Retratos Fantasmas” é um documentário de cunho pessoal dividido em três partes, narrado pelo próprio diretor. Na primeira, ele fala sobre sua história familiar e suas primeiras filmagens em Recife. Na segunda e terceira, usando extenso e raro material de arquivo, conta a ascensão e queda das salas de cinema da cidade — hoje, em ruínas.

“As ruínas dizem muito sobre nostalgia, a perda de algo que não volta mais. E falam muito também sobre o mercado, sobre o sistema de dinheiro que rege a vida em sociedade. As salas de cinema são pontos de venda, são lojas”, afirma. O diretor completa: “É raro você ver alguém falando de salas de cinema dessa forma, mas é o que elas são. No filme, tem um momento que eu digo que é duro se apegar a um produto. E é exatamente esse o paradoxo, você se apegar com carinho, com amor, a algo que, na verdade, é um produto que pode ser descartado porque o vento mudou e o mercado passa a pensar de maneira diferente. Então, toda vez que você vê uma sala fechada, uma ruína, um cinema do passado abandonado, você está vendo um produto que foi abandonado. Ocorre que esse ponto de venda vendia sonhos e imaginação e imagens e lembranças e músicas. O cinema vendia ideias”.

O filme escolhido para representar o Brasil na categoria Filme Internacional será anunciado pela Academia de Cinema e Artes Visuais na terça-feira, 12 de setembro. Tradicionalmente, a lista final de todos os filmes e profissionais indicados da premiação mais importante de Hollywood acontece no final do ano. A 96ª edição do Oscar acontece em 10 de março de 2024.

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