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"Um desagravo a tantos autores e artistas humilhados e ofendidos", diz Chico

Da redação de Headline | Paris

Cantor recebeu de Lula o prêmio. Entrega em 2019 foi postergada pela pandemia e pela recusa de Jair Bolsonaro em assinar a distinção ao cantor, compositor e escritor brasileiro

24 de abr. de 233 min de leitura
24 de abr. de 233 min de leitura

Sem a presença de Jair Bolsonaro, e com a de seu amigo e presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o cantor, compositor e escritor brasileiro Chico Buarque de Hollanda recebeu enfim nesta segunda-feira, 24, o Prêmio Camões, a maior distinção literária atribuída em Portugal. A entrega foi feita pelo presidente brasileiro e pelo presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa.

A cerimônia aconteceu quase exatos três anos após a data marcada – 25 de abril de 2020 –, mas cancelada em razão da negativa do ex-presidente de extrema direita em assinar o diploma da entrega do prêmio.

Em razão desse percalço, que de alguma forma resume a "guerra cultural" lançada pela extrema direita no Brasil contra o mundo da cultura na gestão de Bolsonaro, a entrega do prêmio ganhou uma forte conotação política.

E Chico Buarque lembrou disso em seu discurso: "No que se refere ao meu país, quatro anos de governo funesto duraram uma eternidade, porque foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás. Aquele governo foi derrotado nas urnas mas nem por isso podemos nos distrair, pois a ameaça facista persiste, no Brasil e por toda parte. Hoje, porém nessa tarde de celebração, reconforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu Prêmio Camões, deixando seu espaço em branco para assinatura do nosso presidente Lula".

"Recebo esse prêmio menos como uma honraria pessoal e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo."

Em Portugal, a cerimônia simboliza uma espécie de retorno do Brasil aos círculos democráticos internacionais.

O Prêmio Camões distingue autores de língua portuguesa pelo conjunto de sua obra. Chico Buarque foi escolhido pelo júri em 2019 por "sua contribuição para a formação cultural de diferentes gerações em todos os países onde se fala a língua portuguesa". O júri era composto por Antonio Carlos Hohlfeldt e Antonio Cicero Correia Lima, pelo Brasil; Clara Rowland e Manuel Frias Martins, por Portugal; Nataniel Ngomane, por Moçambique; e Ana Paula Tavares, por Angola.

Galeria dos grandes

O cantor e compositor é autor de Estorvo (1991), seu primeiro romance – e vencedor do primeiro dos quatro prêmios Jabuti em sua estante –, Benjamim (1995), Budapeste (2003), Leite Derramado (2009), O Irmão Alemão (2014), Essa Gente (2019) e Anos de Chumbo (2021), seu livro de contos.

Além da distinção, o vencedor do Prêmio Camões recebe € 100 mil, um valor dividido entre os governos de Portugal e do Brasil. Entre seus vencedores precedentes, estão nomes como João Cabral de Melo Neto, Raquel de Queiroz, Jorge Amado, José Saramago, Antonio Candido, Rubem Fonseca, Lygia Fagundes Telles, João Ubaldo Ribeiro, Ferreira Gullar, Manuel António Pina, Dalton Trevisan e Mia Couto.

Desde a vitória de Chico Buarque, os escolhidos foram o ensaísta português Vítor Manuel Aguiar e Silva (2020), a escritora moçambicana Paulina Chiziane (2021) e o escritor brasileiro Silviano Santiago (2022).

Atualizada em 14 de abril às 16h26, com a entrega do prêmio.

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