#POLÍTICA
Oito reportagens do jornalismo independente que anteciparam o horror yanomami
Moreno Osório, da Headline | Porto AlegreMatérias produzidas recentemente mostram a escalada da crise humanitária yanomami, que foi agravada pelo avanço do garimpo ilegal e pelo descaso do Estado durante os anos Bolsonaro
Vocês devem estar acompanhando, horrorizados, a situação dos yanomamis em Roraima. Se precisarem de contexto, deem uma olhada na matéria abaixo.
A crise não surgiu do nada. Há muito tempo os indígenas vêm reclamando o abandono por parte do Estado e denunciando o avanço do garimpo ilegal, que invade suas terras e inviabiliza a vida no território.
Selecionamos reportagens produzidas pelo jornalismo independente que anteciparam o horror que estamos presenciando agora.
Começamos com esta, da Agência Pública que, em dezembro passado, denunciou que a mortalidade infantil entre os yanomamis era 13,7 vezes maior do que a nacional. Vejam o que escreveu o repórter Rafael Oliveira:
"[...] entre 2019 e 2021, ao menos 404 crianças menores de 5 anos morreram no território indígena por causas que poderiam ter sido evitadas ou tratadas. É uma média de 134 a cada ano, sendo os dados de 2020 e 2021 ainda preliminares."
A Pública já havia noticiado o descaso com a população yanomami em 2021. Nesta outra reportagem, ao denunciar que 24 crianças indígenas haviam morrido por desnutrição, o repórter Rafael Oliveira observava que o número representava 7% dos casos do Brasil.
Os dados atuais mostraram um cenário pior. Reportagem da Sumaúma publicada na última sexta mostrou que 570 crianças yanomamis menores de 5 anos morreram por causas evitáveis nos últimos 4 anos. Um número 29% maior do que nos quatro anos anteriores.
Voltando à Pública, Rubens Valente denunciou, em setembro de 2022, que o governo federal havia bloqueado R$ 250 milhões da saúde indígena — e que a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) tentava reaver parte da quantia. A reportagem já trazia infos sobre mortes evitáveis e desnutrição.
Em junho de 2021, Maria Fernanda Ribeiro, da Amazônia Real, escreveu:
"Uma água barrenta escorre de lagoas de sedimentos e jorra para os rios. Há muito mercúrio, ainda largamente utilizado na extração do cobiçado minério. Mas carrega também o sangue dos Yanomami, que pedem socorro."
O trecho foi retirado de uma das sete do especial "Ouro do sangue Yanomami", produzido em parceria com a Repórter Brasil. O material mostra "o caminho do ouro, da extração ilegal que devasta a Terra Indígena Yanomami até sua transformação em joias de luxo".
Querem saber como? Então leiam esta reportagem Repórter Brasil de junho de 2021. A partir de inquéritos da PF obtidos via LAI, a matéria mostra, nas palavras dos repórteres Guilherme Henrique, Ana Magalhães e Piero Locatelli, "como a comercialização do metal ganha um verniz de legalidade, mesmo tendo uma origem ilegal".
Voltando ainda mais no tempo vocês descobrir que Davi Kopenawa Yanomani já denunciava as atrocidades vividas pelo seu povo em 2017. Leiam a entrevista que o El País Brasil fez com ele. Já naquele momento, o líder indígena denunciava a invasão de garimpos ilegais nas terras da etnia. “Estamos tomando água poluída, de mercúrio", denunciou.
Por fim, uma dica de filme: "A Última Floresta", disponível na íntegra no YouTube, mostra a tentativa de Davi Kopenawa Yanomani de "manter vivos os espíritos da floresta e as tradições, enquanto a chegada de garimpeiros traz morte e doenças para a comunidade".