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O ano da retomada da cultura

Mario Camera, da Headline | Rio de Janeiro

Em ano marcado pelo aumento dos investimentos, da produção e do público, setor cultural chega a 2023 aliviado com volta de ministério e o fim do governo Bolsonaro

24 de dez. de 225 min de leitura
24 de dez. de 225 min de leitura

O  ano de 2022 na cultura começou com uma bofetada e terminou com outra. A primeira, foi de Will Smith em Chris Rock, na cerimônia do Oscar. A última foi o anúncio da volta do Ministério da Cultura, anunciada por Lula, um tapa na cara da administração de Jair Bolsonaro, que havia acabado com a pasta no início de seu mandato e trabalhou duro para cortar incentivos que estão na base do financiamento do setor.

Ao subir ao palco do Oscar para tirar satisfação com seu colega comediante por uma piada sobre sua mulher, Will Smith inaugurou a temporada 2022 do showbiz. Após dois anos que praticamente paralisaram o setor, a premiação americana foi a largada para o fim do isolamento pandêmico e a volta de uma agenda consolidada de festivais e produções em todas as áreas – tendência que já se anunciava desde o segundo semestre do ano passado, mesmo que de maneira tímida. No fim da noite, “No ritmo do coração” levou o prêmio de melhor filme.

No Brasil "Marte Um", de Gabriel Martins, conquistou crítica e imprensa, e foi escolhido como o representante brasileiro na disputa por uma vaga de melhor filme estrangeiro no Oscar em 2023. Outro que está na corrida para chegar à premiação americana é o curta “Sideral”, de Carlos Segundo. O filme foi o único representante do Brasil em Cannes este ano e já ganhou mais de 50 prêmios. No Festival de Gramado, o Kikito de melhor filme ficou com “Noites Alienígenas”, dirigido por Sérgio de Carvalho e o primeiro longa produzido pelo estado do Acre.

No audiovisual, a produção de séries, filmes e programas de streaming e tv foi marcada pelo quase desaparecimento das medidas sanitárias, que encareceram orçamentos ao obrigar equipes inteiras a testes diários de covid-19, isolamentos antes de depois das gravações e interrupções constantes do trabalho devido a contaminações.

Marília Mendonça segue em primeiro

O ano também foi de centenário da Semana de 22, que teve homenagem mais tímida do que a importância exigida pela data. Apesar dos esforços para fazer uma programação aberta ao debate sobre o elitismo do movimento e seu legado e impacto no Brasil de hoje, a celebração não empolgou o grande publico.

“O som do rugido da onça", da pernambucana Micheliny Verenschk, venceu o Jabuti deste ano na categoria de melhor romance. A literatura nacional também voltou a ter seu encontro mais charmoso com uma edição presencial da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que contou com a presença ilustre da vencedora do Nobel deste ano, a francesa Annie Ernaux.

Annie Ernaux e Veronica Stigger sob mediação de Rita Palmeira na mesa 14 "Diamante Rubro". Foto: Walter Craveiro/Divulgação FLIP
Annie Ernaux e Veronica Stigger sob mediação de Rita Palmeira na mesa "Diamante Rubro", na Flip. Foto: Walter Craveiro/Divulgação FLIP

Ainda no digital, 2022 também consolidou a ascensão do Tik Tok como a rede social de referência para a nova linguagem que nasce na internet e desemboca no resto da indústria, carregando junto uma leva dos chamados influencers, que vêm revolucionando a cultura pop nos últimos anos. Apesar disso, a plataforma chinesa entra em 2023 ameaçada de ser banida dos EUA, por suspeita de espionar ou censurar cidadãos do país.

O novo poder negro

Com o afrouxamento das medidas sanitárias, os museus também voltaram a receber o público, que lotou exposições como a de Adriana Varejão, na Pinacoteca de São Paulo. Além disso, as artes plásticas viram 2022 consolidar o papel de artistas negros e trans no mercado nacional, num movimento que vinha ganhando força desde o fim dos anos 2010.

O período encerrou-se com um ponto de inflexão que refletiu a força dessa tendência e abriu um debate muito mais amplo sobre o papel de artistas pretos nas artes plásticas.

Sem título, 2022 -
Série Novo Poder (Maxwell Alexandre/Reprodução Instagram)

Maxwell Alexandre, a grande estrela das artes plásticas brasileiras na atualidade, colocou o dedo na ferida de um setor que tem dado espaço a artistas negros, mas parece mais interessado em capitalizar em cima da tendência. O carioca protestou em suas redes sociais contra a falta de funcionários negros e de um pavilhão dedicado a artistas negros no Instituto Inhotim. Maxwell, que este ano emplacou uma exposição individual no Palais de Tokyo, principal museu de arte contemporânea de Paris, exigiu a retirada de uma de suas obras que faria parte de uma exposição na célebre instituição mineira, que acabou cedendo e "baixou" a obra do artista.

Desde que se tornou a principal plataforma de música do mundo, o Spotify substituiu a histórica lista da Billboard como referência das mais tocadas. Em 2022, o artista mais ouvido no tocador foi Bad Bunny. No Brasil, Marília Mendonça, falecida em 2021, terminou em primeiro lugar entre os artistas do país pelo terceiro ano consecutivo. No Grammy Latino, Annita não conseguiu levar o prêmio de melhor gravação do ano, para o qual concorria com “Envolver”. A categoria foi vencida pelo espanhol C. Tangana e o uruguaio Jorge Drexler, com “Tocarte”.

O ano termina com uma notícia boa para a cultura. Após a pasta ser relegada a secretaria por Bolsonaro e desmontada por Mário Frias, ela voltará a ter status de ministério. A baiana Margareth Menezes foi indicado por Lula para ocupar a pasta e terá pela frente o duro trabalho de reerguer um setor castigado pelo governo Bolsonaro. 

Headline também é cultura

Em 2023, Headline também pretende ampliar a cobertura cultural com a entrada de novos parceiros dedicados exclusivamente à editoria. Nosso esforço é contínuo ao levar ao público reportagens e análises que reflitam a pluralidade da produção cultural brasileira e mundial.

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