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Mourão não vê problema em manifestações pró-Bolsonaro pedindo golpe militar

Sobre a cassação de sua chapa pelo TSE, vice-presidente disse a Headline que pressão “faz parte do jogo político": "Eu estou tranquilo e sereno a esse respeito”; entrevista realizada em 6 de junho de 2020

Andrei Netto, Deborah Berlinck, Felipe Paiva, Mario Camera
#Bolsonaro5 de jun. de 2019 min de leitura
Vice-presidente em reunião em Brasília: general diz que Forças Armadas não compartilham intenção golpista. Foto: Daniel Marenco/ HEADLINE
Andrei Netto, Deborah Berlinck, Felipe Paiva, Mario Camera5 de jun. de 2019 min de leitura

O general Hamilton Mourão, vice-presidente do Brasil, não vê problemas em cartazes pedindo golpe militar e não crê em qualquer hipótese de as Forças Armadas se aventurarem nesse tipo de ação. A análise, seguida de uma "garantia", foi feita em entrevista exclusiva a Headline. Segundo o oficial, as Forças Armadas "continuam em sua função constitucional", apesar da pressão explícita de apoiadores bolsonaristas pela ruptura democrática. 

"Hoje, em que as Forças Armadas estão especificamente envolvidas? No preparo dos cidadãos que foram alistados este ano no apoio ao combate à pandemia, e na operação Verde Brasil 2 lá na Amazônia. Estão cumprindo a sua tarefa constitucional", argumentou. "Vocês não veem nenhuma manifestação das forças da ativa, ninguém fazendo panfletagem em nenhum quartel. Nem a turma dos quartéis fazendo discurso de que vai invadir isso, invadir aquilo. O que você vê, na maioria dos casos, são civis propugnando soluções dessa natureza".

Questionado sobre o fato de o presidente, ele próprio, apoiar e estimular essas manifestações, Mourão alegou que não vê ilegalidades. "Bolsonaro não é ameaça à democracia", afirmou. 

Na entrevista, o vice-presidente fala ainda sobre o risco de cassação de sua chama pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sobre a gestão da crise sanitária pelo governo Bolsonaro, e, em meio à onda de manifestações no país e no mundo, se arrisca a uma "análise" sobre os protestos contra racismo, que segundo ele são geralmente "organizados por negros ligados ao setor cultural". "Não há racismo no Brasil”, afirma, contrariando todos os maiores especialistas no tema no Brasil.

Veja trechos da entrevista em vídeo

A seguir, a síntese da entrevista concedida por videoconferência à equipe de Headline. 

O senhor chamou os manifestantes antifascistas e antirracistas de delinquentes e de baderneiros. É legítimo defender o fechamento do STF, do Congresso e a intervenção militar como o outro grupo de manifestantes defende? 

Vamos colocar as coisas no seu devido lugar, né? Manifestações fazem parte da vida democrática de um país. Agora, a minha visão é clara. Toda e qualquer manifestação, independente das ideias que estiverem propagando, se as ideias são coerentes com o Estado Democrático de Direito ou não, elas têm de ser feitas dentro dos limites da lei. Então enquanto a turma que se manifesta em favor do presidente se mantiver dentro dos limites da lei, na ordem, cumprindo as determinações e orientações da polícia, dentro do horário previsto, sem depredação do patrimônio público e sem agressões, eu não vejo problema. Embora determinadas bandeiras ali apresentadas possamos tranquilamente repudiar e dizer que não são coerentes com aquilo que a gente espera de um sistema democrático.

Da mesma forma, manifestações contrárias ao presidente que também se coloquem dessa mesma maneira. O que me preocupa, e foi o que eu busquei expressar no meu artigo, é no momento em que a gente aceita que um agrupamento de brucutus, representando torcida organizada – que nós somos os primeiros a criticar o comportamento desse pessoal quando comparecem aos estádios de futebol, essa é aquela mesma turma que marca briga por internet, com todos os incidentes que nós vimos acontecendo nos nossos estádios e ao redor deles nos últimos anos – esse pessoal se apresentar como defensor da democracia. Eu acho que isso não é o caso. Você vê que essa turma muitas vezes vai para a rua para brigar com a polícia. Esse é o objetivo deles.

Minha posição é muito clara: manifestação, a favor ou contra, dentro dos limites da lei, faz parte do sistema democrático e todos nós que estamos na política, seja no Executivo ou no Legislativo, ou os próprios membros do Judiciário, temos de aceitar a crítica, quer gostemos ou não. 

O presidente Bolsonaro participa e apoia toda semana manifestações que pedem o fim do regime democrático no Brasil, AI5, intervenção das Forças Armadas, fechamento do Congresso e do STF – o que é crime, previsto no Código Penal. Isso é legítimo, isso está dentro da lei? Até onde vai a liberdade de expressão? 

A liberdade de expressão, na minha visão, lhe permite expressar suas ideias – fazendo aqui um pleonasmo: a liberdade de expressão permite expressar –, permite que você expresse suas ideias, da mesma forma que outros também as expressam e com palavras que atentam também ao Estado Democrático de Direito – a turma que fala em ditadura do proletariado, etc. Então isso faz parte do sistema em que nós vivemos.

"Eu não vejo o presidente Bolsonaro em nenhum momento como uma ameaça ao sistema democrático."

E vamos colocar de uma forma muito clara: são segmentos minoritários mais extremistas que apoiam o presidente, e também tem segmentos minoritários extremistas que são contra o presidente. Os segmentos minoritários são mantidos nos extremos do espectro político.

A questão da presença do presidente, vamos colocar da seguinte forma: ele desconsidera esses arroubos de parcela de seus apoiadores. Eu não vejo o presidente Bolsonaro em nenhum momento como uma ameaça ao sistema democrático, até porque se eu o considerasse uma ameaça eu não participaria desse governo.

O senhor escreveu que o Brasil está importando manifestações contra o racismo de outras culturas. Não há racismo no Brasil?

Eu digo e afirmo que não há racismo no Brasil. Nós temos desigualdade. Aqui não existe ódio racial. Eu morei dois anos nos Estados Unidos, na adolescência. Vi coisas lá que eu nunca vi aqui no nosso país. No colégio em que eu estudava, que era uma escola pública, havia um número reduzido de alunos negros. Eles se movimentavam como um gueto. Aquele grupo andava sem praticamente se misturar com os demais alunos, coisa que eu nunca tinha visto aqui no país, onde eu também estudava em uma escola pública, mas nós convivíamos da forma mais harmônica possível. Então existe desigualdade.

Eu também estava morando nos Estados Unidos quando Martin Luther King foi assassinado, no início de 1968, e vi a capital americana ser incendiada no seu setor sudeste, que é um gueto onde há negros em Washington, e o Exército americano investir contra a cidade para pacificar. Coisa que eu nunca vi aqui no Brasil. Então são duas situações totalmente distintas. Agora, temos desigualdade.

Você mencionou a questão dos confrontos entre a polícia e as quadrilhas de criminosos que existem no Rio de Janeiro. Vamos lembrar: o maior percentual de população negra que nós temos é em cidades como o Rio de Janeiro, como em Salvador. São diferentes. Se você vê os confrontos com a polícia no sul do país, os que vão tombar lá são brancos. Isso é uma questão até de dados estatísticos. Não considero isso como uma guerra da polícia contra os negros – até porque coloca a polícia em forma: a maior parte é negra ou parda.

Então a desigualdade não é resultado do racismo, como muitos afirmam?

Não, não é. A desigualdade no nosso país é uma herança que nós temos da nossa própria formação, a formação brasileira. Nós fomos o último país a abolir a escravidão. Vamos lembrar que no século 19 a economia colonial, e antes até no século 18 e 17, ela se fez nas costas do escravo.  

Nós vivemos uma abolição da escravatura sem um planejamento posterior, em nenhum momento, para inserção daquelas pessoas que, da noite para o dia, foram retiradas de um regime e colocados em outro. Então, isso se arrasta até hoje. Não é culpa do presidente Bolsonaro, que tem um ano e meio de governo. Nós temos anos e anos de história, e nenhum dos antecessores solucionou esse problema.   

O que o senhor diria para os negros no Brasil que dizem que há racismo? Qual a mensagem, como responderia a eles? 

Eu acho que essa é uma questão de foro íntimo. Eu vejo as declarações de algumas pessoas negras, normalmente ligadas ao setor artístico, ao próprio setor da imprensa, gente mais ligada à área cultural que expressa esses sentimentos. Eu não vejo isso. Agora, vamos colocar assim: é opinião. Cada um tem a sua. Eu tenho a minha e estou expressando aqui para vocês, não é? Não estou querendo impor nada. Estou expressando a minha opinião. 

Que razões o senhor vê para uma ruptura institucional no Brasil? 

A primeira coisa que tem que estar muito clara: não há nenhum motivo para ruptura institucional. O que seria uma ruptura constitucional? Vamos colocar com todas as palavras. Um golpe de estado clássico, com o fechamento do Congresso, fechamento do STF, e um ditador assumindo. Ou podemos ter um outro tipo de ruptura institucional, como a ocorrida na Venezuela, que foi um processo de aproximações, uma atrás da outra. Primeiro, o Chávez refazendo uma Constituição ao seu gosto. Depois, passando a ter eleições indefinidas, como nós já vimos em outros países aqui na América do Sul.  É um outro tipo de ruptura.

Não vejo nenhuma ameaça dessa natureza para que haja uma solução de força como toda a hora está se especulando aqui no Brasil, e querendo colocar as Forças Armadas como um ator nesse processo.  

O Ministro Weintraub (Educação) propôs que ministros do STF fossem presos. Queria que o senhor comentasse a reunião ministerial. Qual foi o seu pensamento quando ouviu o ministro Weintraub falar isso? 

Eu coloco uma coisa muito clara em relação à reunião. A reunião era privada. Nenhuma empresa divulga aspectos de reunião privada. Nessa hora, há arroubos de retórica, excessos, opiniões, brigas. Como em qualquer instituição, ocorrem fatos dessa natureza. Então, em relação ao que o ministro falou, ele falou dentro de um grupo fechado. Se tivesse sido falado de forma aberta, eu acho acho não, não tenho dúvida  de que ele estaria incorrendo em algum tipo de crime. Mas dentro de uma reunião fechada, são opiniões que a gente expressa. A gente mesmo quando conversa com um amigo, muitas vezes você emite opinião que não são as mais corretas, não é?  

Era uma reunião ministerial, não era uma reunião entre amigos. O governo todo estava reunido, inclusive falou-se muito pouco sobre a pandemia, o que foi muito criticado por uma grande parte da população. 

Mas volto a dizer para você que era uma reunião privada. Ninguém grava reunião privada. Isso foi um erro do governo gravar esse tipo de reunião. Os governos anteriores gravavam suas reuniões? Imagina uma reunião no tempo de uma determinada presidenta, que era conhecida pela forma como tratava seus subordinados. Imagina como é que seria. Então, ali não tem um grupo de vestais, nem um grupo de seres perfeitos. As imperfeições foram apresentadas de forma clara para o restante do país.

O senhor disse que manifestantes contrários ao governo são extremistas. Disse o seguinte: “Fomos governados pela esquerda e pelo centro-esquerda e agora é a centro-direita e alguns da direita mais extremada…”. O senhor entende, então, que tem extremista no governo? Quem são?

Vamos colocar o seguinte: eu falei do apoio que nós temos. O governo hoje é apoiado pela direita e pela centro-direita. E dentro da direita você tem aquela turma mais extremada, que é esse pessoal que está nas ruas com essas bandeiras que vocês já colocaram aí. Antes, nós tínhamos a centro-esquerda e esquerda, também com bandeiras radicais. Não vamos esquecer os MST da vida, os MTST, com todas as bandeiras radicais que nós vimos no passado. E convivemos perfeitamente ao longo dos últimos tempos com isso.

A gente tem que entender que esse é o projeto que a maioria da população brasileira elegeu. Esse projeto tem até 2022 para mostrar que tem capacidade de solucionar os problemas do país. Se ele não mostrar, será substituído por outro. Essa é a beleza da democracia e da alternância do poder, que a gente tem que aceitar.  

Não tem extremista de direita no governo?

Não, no governo não tem. Apesar de muita gente rotular alguns ministros como sendo a expressão acabada dos maiores extremistas, não são. Eu não vejo ali nenhum daqueles ministros capazes de ações do tipo “vamos sair daqui agora e vamos fechar o Congresso”. Nenhum ali tem capacidade para isso, nem vontade. 

O presidente Bolsonaro publicou na rede social um vídeo onde um homem repete uma frase utilizada por Benito Mussolini, ditador fascista italiano. Não se pode dizer que o presidente publica uma frase utilizada por Mussolini nas redes sociais e não quer passar algum tipo de mensagem. De alguma maneira, existe um flerte com regime mais extremo de direita. Qual a sua opinião? 

"Mais vale um minuto como águia do que 100 anos como cordeiro". Essa frase é fora do contexto do fascismo italiano. Ela é utilizada como uma forma de você demonstrar a sua coragem moral para enfrentar aquilo que tem que ser enfrentado. Agora, se você quer transportar isso para uma comparação com algo que aconteceu na Itália há cem anos, olha, é totalmente fora do contexto. Ao longo da minha vida, eu, em diversos locais, em colégio, em escola militar, eu vi esse tipo de frase ser colocada como algo para nós entendermos as nossas responsabilidades, que nós não podemos sumir no meio da massa, deixar de assumir aquilo que é tarefa nossa. Então, é nesse contexto que você tem que analisar a publicação do presidente dessa frase. E não o contexto que é fácil você transportar… Isso aí, em termos de propaganda e marketing, é chamado de generalização brilhante, né? Você pega essa frase e coloca como algo no contexto de cem anos atrás. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. 

Semana que vem tem dois julgamentos que comprometem o governo Bolsonaro: um sobre a constitucionalidade do inquérito das fake news e outro sobre ataques cibernéticos nas redes sociais, que teriam beneficiado a sua chapa no TSE. O senhor teme a cassação da chapa pelo TSE? 

Não, não temo. Não tenho o mínimo temor na cassação da chapa, porque a ação é uma ação fraca. Ela está baseada em cima daquele site, não, né? E que aí teria sofrido uma invasão e invertido o que eram as palavras de ordem colocadas ali. E atribuindo aquilo ao presidente, que o presidente teria insuflado aquilo. Ou teria pago por aquilo, vamos colocar assim. E que aquilo teria tido uma influência no resultado da eleição. É uma forçação de barra muito grande, não é?

Analisando, o próprio Ministério Público já se posicionou contra, disse que não tinha condição de prosperar. O relator, que é o ministro Og Fernandes, já votou pelo arquivamento. Então é um processo que já se viciou. O novo presidente do Tribunal (TSE), ministro Barroso, já pautou, se não me engano, para o dia 9, porque o ministro Fachin tinha pedido vistas, né? O Og votou e o Fachin pediu vistas. Eu não vejo indícios para prosperar isso aí. Faz parte do jogo político, nada mais é do que pressão, mas eu estou tranquilo e sereno a esse respeito. 

O que é preciso para acalmar esse confronto quase que diário entre os três poderes da República? Quem está de fora tem a impressão de que o Brasil está numa crise permanente, em muitos casos, iniciada pelo próprio presidente da República. 

Veja o seguinte. Na véspera da divulgação do vídeo, houve aquela reunião do presidente com Alcolumbre, Maia e todos os governadores. Foi um dia que nós terminamos, parecia que estávamos num país normal. Não houve discussão do presidente com o governador de São Paulo, tudo caminhando às mil maravilhas. No dia seguinte, publicam o vídeo e abre-se novamente a caixa de pandora e todos os temores começam a esvoaçar por aí. Então, a coisa é muito clara, né? Nós temos que buscar a convergência. Os princípios que nos regem são os mesmos. São os princípios da civilização ocidental: democracia, capitalismo, Estado de Direito, sociedade civil forte, pacto de gerações. Há opiniões diferentes. Então, nós temos que buscar a convergência. Ou seja, botar a bolinha no chão, aceitar as críticas que forem feitas. Não tomar a crítica sempre como uma ofensa pessoal. E buscar sempre o melhor para o país. Porque para isso, nós, do Executivo, fomos eleitos, para isso o Legislativo foi eleito, e para isso o Judiciário, no seu mais alto nível, foi investido dessa função. Compete a nós, as lideranças maiores do país, entendermos essa nossa responsabilidade e sermos efetivamente leões e não cordeiros. Assumirmos e termos a coragem de fazer o que tem de ser feito e buscar pelas convergências. 

O governo vê adversários como inimigos?

Eu não vejo desta forma. Até o discurso de “nós contra eles” era feito por governos anteriores. Nós não temos esse discurso de “nós contra eles”. Eu, particularmente, tenho relacionamento com políticos de todos os partidos. Já recebi de todos aqui. Desde o PCdoB, chegando até os outros que são apoiadores efetivos do nosso governo. Eu não vejo ninguém aqui como inimigo. Na escola em que eu fui formado, a Academia Militar das Agulhas Negras, a nossa canção diz muito claro: “Brasileiros, sois todos vós.” Então, vamos atuar como brasileiros. 

O senhor garante que não vai haver golpe militar?

Vocês têm que estudar a nossa história. Fica todo mundo olhando no retrovisor. Olhando para 1964, era outro Brasil, outro mundo. Vamos colocar assim, as intervenções militares na história brasileira foram iniciadas com a proclamação da República, passando pelo movimento tenentista, pela revolução de 30, pelo integralismo, pelo retorno da democracia na volta da força expedicionária brasileira da Itália, pelos acontecimentos antes da posse do presidente Juscelino até chegar em 64. Quando chegou 64, assim… “Bom, agora os militares vão permanecer, um tempo, no poder.” Permaneceram, acertaram muita coisa, erraram em outras, não é? Foi a única transição política, no Brasil, feita pacificamente. Analisem isso. O regime militar se auto extinguiu e passou o bastão para os civis há exatos 35 anos. Então, isso acabou. É que como hoje a gente vive mais, o pessoal mais velho muitas vezes fica comentando isso aí e acaba chegando para vocês também, que são muito mais novos, e não viveram efetivamente esse período. Então, olha, apaga para isto. O passado ficou lá. Pertence à história.

"O regime militar se auto extinguiu e passou o bastão para os civis há exatos 35 anos. Então, isso acabou."

A "gripezinha", descrita pelo presidente Bolsonaro, já matou mais de 34 mil brasileiros desde o início da pandemia, há 100 dias. O país segue há 20 dias com um ministro interino da Saúde. O que o senhor tem a dizer para os brasileiros que perderam entes queridos, um pai, uma mãe, um filho, um esposo, uma esposa? 

Eu também perdi entes queridos. Dois companheiros de formatura da minha academia militar faleceram pela covid. Então, isso aí é algo que atingiu o mundo inteiro. O presidente, quando se referiu a uma gripezinha, foi exatamente para buscar não aterrorizar as pessoas. Tem muita gente hoje aterrorizada, não é? É uma pandemia. Nós fomos um dos primeiros países a provocar a Organização Mundial da Saúde para que efetivamente declarasse isso. Vamos lembrar que a OMS ficou enrolando para declarar a questão da covid uma pandemia. Vamos lembrar o seguinte: O Brasil é um país desigual, não só na questão social mas na sua questão territorial. Nós temos hoje essa pandemia concentrada, com mais força, em oito Estados, dos nossos 26. Em outros ela está bem controlada, bem arrefecida. A atividade está quase a um nível normal. Vamos colocar aí para 70%, 75% da normalidade. E nós vamos ter que conviver com isso, procurando o tempo todo harmonizar três curvas. É isso que os brasileiros têm que entender. Temos que harmonizar a curva da saúde, fazer com que a doença caiba na nossa capacidade hospitalar. Então está aí. Períodos de isolamento maior, períodos de isolamento menor, áreas mais isoladas, áreas mais abertas. Isso faz parte de um país da amplitude do nosso. 

O senhor é a favor do isolamento ? 

Não é questão de ser a favor ou contra. Essa questão está muito mal colocada. O isolamento tem que ser inteligente. O que é um isolamento inteligente? É estar de acordo com a realidade de cada lugar. Não adianta você aqui de Brasília dizer: “Atenção, está tudo fechado!” Não é assim. Cada Estado, cada Município, tem a sua realidade. Eu vejo que o papel do governo federal nesta questão é: primeiro lugar, buscar o melhor protocolo de tratamento e disseminar. Isto não é obrigatório. É simplesmente uma recomendação. Vocês sabem muito bem que médico e paciente vão decidir isso no último momento. Segundo lugar, prover o apoio necessário para que estados e municípios enfrentem isso. E o governo vem fazendo isso, vem entregando recursos, vem buscando comprar equipamento, vem buscando acertar a questão logística. Por isso que o Pazuello foi colocado no Ministério da Saúde como especialista de logística que é. Vamos lembrar que a logística no Brasil não é simples. Principalmente quando você considera que mais da metade do nosso território é Amazônia, onde você só chega em muitos lugares de barco ou de avião. Aliás, na maioria dos lugares. A questão da saúde, especificamente, está nas mãos dos técnicos. Nós tivemos médicos ao longo da vida como ministros da Saúde que não fizeram nada. Muito pelo contrário. Se você for olhar os casos de corrupção ocorridos nos ministérios da Saúde sob égide, vamos dizer assim, de médico, a coisa é lamentável. 

O fato de o Brasil estar batendo todos os recordes, é o terceiro país mais afetado no mundo e etc, não é um sinal de que a política do seu governo fracassou?

Essa comparação dos números absolutos não leva em conta as diferenças do Brasil em relação a países menores. Eu acho que isso tem que ser colocado muito claramente. Se você quer comparar, você soma Reino Unido, Espanha e França. Somada as três populações e vai dar a população do Brasil. Essa é a realidade que tem que  ser colocada. Não desfazendo, em nenhum momento, da quantidade de pessoas que lamentavelmente perderam a vida. E eu estou contando aqui para vocês. Dois amigos muito queridos, de mais de 50 anos de amizade, foram embora por causa dessa doença.

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