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Estudo mostra como as riquezas da Amazônia são saqueadas em outros países
Francisco Amorim, da Headline | Porto Alegre"Amazônia saqueada: as raízes do crime ambiental em cinco países amazônicos" investiga as causas do desmatamento que circunscrevem 20% da Bacia Amazônica
Entre pistas e estradas clandestinas abertas no coração da mata, pequenos monomotores e agigantados treminhões transportam toras, ouro e animais silvestres. No rastro dos mercados ilícitos na Bacia Amazônica, intimidações, cerceamentos e mortes. Violência que não reconhece fronteiras legais ou autoridades nacionais dos países que circunscrevem a maior floresta tropical do planeta.
O potencial destrutivo desses mercados é conhecido por pesquisadores e ambientalistas há décadas, mas recentemente uma abrangente publicação que integra uma série de estudos desenvolvidos pelo Instituto Igarapé e pela InSight Crime reuniu dados sobre delitos ambientais em cinco dos nove países da bacia — Bolívia, Venezuela, Equador, Guiana e Suriname.
Intitulado "Amazônia saqueada: as raízes do crime ambiental em cinco países amazônicos", o estudo aborda a situação em 20% da Bacia Amazônica, terras circunscritas a esses cinco países, onde houve a perda coletiva de 10 milhões de hectares de floresta na última década - um hectare equivale quase a um campo oficial de futebol -, área onde 91 comunidades indígenas lutam para sobreviver.
O estudo com cerca de 80 páginas se concentra em quatro dimensões das ações criminosas que impactam flora, fauna e a vida do povo: desmatamento, mineração de ouro, tráfico de animais silvestres e a corrupção. Os dados abrangem anos de ineficiência dos Estados no combate às prática ilegais — e, em alguns casos, certa anuência. Headline resume dados extraídos da publicação que permitem compreender como essa parte da Amazônia é devastada. Eles mostram as semelhanças com o Brasil, que não foi objetivo do estudo.
Desmatamento não respeita fronteiras
A Bacia Amazônica é coberta por quase oito milhões de quilômetros quadrados de floresta tropical. Ao mesmo tempo que impressiona, a grande extensão de mata — o equivalente a todo o território brasileiro — revela a maior fragilidade.
Analisando dados da Global Forest Watch, o estudo aponta que a Bolívia registrou os níveis mais altos de desmatamento entre as cinco nações. "Entre 2001 e 2021, o país perdeu mais de 6 milhões de hectares de floresta", aponta. "A taxa representa uma diminuição de 10% na cobertura florestal total desde o início do milênio". As causas para a derrubada de árvores se assemelham entre os países.
Em 2000, a pecuária e a agricultura ocupavam 800 mil quilômetros quadrados da região, índice que aumentou 81,5%, apontam os pesquisadores. Soja, carne bovina e óleo de palma impulsionaram o desmatamento para atender a demanda da Europa e Ásia. Mercados internacionais consumidores de madeira também estão por trás do desmatamento ilegal. Bolívia e Equador abrigam alguns dos principais focos de tráfico de madeira na Bacia Amazônica.
O mesmo ocorre por conta do narcotráfico. Segundo o estudo, "enquanto nas regiões amazônicas do Equador e da Venezuela é possível observar o aparecimento esporádico de plantações de coca em pequena escala, a maior parte da matéria-prima da cocaína é encontrada na Colômbia, no Peru e na Bolívia".
A publicação indicou os atores que impulsionam o desmatamento: geralmente eles estão "envolvidos em atividades agrícolas, no tráfico de madeira e no cultivo de coca". Eles aliam atores legais, organizações criminosas, grupos armados não estatais e mão de obra barata.
Impactos da mineração [i]legal de ouro
A mineração ilegal tornou-se um dos principais motores do desmatamento, sobretudo na Venezuela, na Guiana e no Suriname, indica o estudo. Dados recentes mostram que há pelo menos 4.472 locais de mineração ilegal em toda a região.
No Suriname, os comerciantes de ouro chineses enviam grande parte do produto que compram para a China. Recentemente, um relatório da WWF revelou um esquema no país asiático em que exportadores faziam acordos com joalheiros e comerciantes de ouro em Dubai, na Europa e nos Estados Unidos.
Já na Venezuela, os grupos armados controlariam os locais de mineração e as rotas de ouro. Parte deles também migraram para a mineração ilegal na Guiana.
O tráfico de animais silvestres
Os cinco países estão entre os de maior diversidade no planeta e entre os que mais colocam fauna e flora em risco. A região se tornou alvo de redes internacionais de tráfico de animais silvestres.
As aves são um dos alvos histórico: papagaios, araras e pássaros canoros — que cantam — são as mais traficados. O estudo indica que, nos mercados legal e ilegal, os preços das araras variam conforme a cor dos animais: nas operações legais, as araras verdes são vendidas por um valor que varia entre 200 e 250 dólares, algo entre R$ 1,1 mil e R$ 1,3 mil; araras azuis variam entre 275 e 300 dólares — 1.500 e 1.600 reais — e araras vermelhas, 400 dólares, cerca de R$ 2,1 mil. Nem répteis, incluindo iguanas verdes e cobras, escapam e são visados para o comércio de animais de estimação.
As redes de tráfico de animais silvestres contam com pecuaristas, mineiros, madeireiros e agricultores. "Eles agem de forma oportunista, sem um comprador formal alinhado, sabendo que sempre poderão vender os animais com a demanda de mercado", registra o trabalho.
Por fim, os pesquisadores colocam a corrupção como prática que "azeita as engrenagens" do crime ambiental em todos os cinco países analisados. A publicação, no entanto, limita-se a referenciar o argumento apenas com a menção de casos recentes de associação de autoridades com grupos criminosos, informação geralmente vinda de jornalistas e ativistas.
Na situação mais crítica, o Instituto Igarapé e a InSight Crime destacam a Venezuela, onde a corrupção nos altos escalões do Estado e do governo facilitaria o comércio de ouro.