Conecte-se

#Equador

Equador: bombas em Guayaquil renovam medo por narcoterrorismo

Giro Latino

O presidente Guillermo Lasso decretou um novo estado de emergência depois que um atentado com explosivos deixou pelo menos cinco mortos e 17 feridos em Guayaquil.

29 de ago. de 225 min de leitura
29 de ago. de 225 min de leitura

“Foi uma declaração de guerra ao Estado”, afirmou o ministro do Interior equatoriano, Patricio Carrillo, antes mesmo que as investigações avançassem. Desde que um atentado com explosivos deixou pelo menos cinco mortos e 17 feridos em Cristo del Consuelo, uma periferia pobre da importante cidade portuária de Guayaquil, no último domingo (14), o Equador está imerso em um novo estado de emergência. Forças-tarefa de segurança pública voltaram a ocupar o noticiário e ganhou espaço o temor de que a escalada do conflito entre grupos do crime organizado – que já vem contando vítimas, às centenas, dentro das cadeias do país – esteja tomando definitivamente as ruas das principais metrópoles.

A hipótese inicial das autoridades é de que a bomba, de fabricação caseira, tenha sido posicionada no contexto de uma disputa territorial e teria como alvo principal um homem conhecido pelo apelido de “Cucaracha” (barata), dono de casas noturnas clandestinas e supostamente ligado à gangue Los Tiguerones. A família do suposto alvo, identificado apenas como Juan Carlos C. M., e que saiu ferido no atentado, nega o envolvimento dele, alegando que o Cucaracha seria apenas mais um empreendedor vitimado pela extorsão dos grupos criminosos que atuam na área. “Cucaracha é um apelido carinhoso que ele tem desde que era criança, e não por pertencer a uma gangue”, garantiu a esposa do homem, que seguia hospitalizado até o fechamento desta edição.

Sem dar crédito à versão, as autoridades seguiram fechando o cerco na vizinhança, em uma investigação que contou até com a consultoria de agentes enviados pelo FBI, a polícia federal dos Estados Unidos. Além de um gabinete especial de segurança que vem tentando esclarecer as causas do violento ataque, a polícia equatoriana foi autorizada a utilizar equipamento mais pesado e o estado de exceção suspendeu uma série de direitos civis, facilitando operações de busca e apreensão que o governo considera indispensáveis para perseguir os criminosos – especialistas seguem dizendo, porém, que os decretos continuamente assinados pelo presidente Guillermo Lasso não passariam de “medidas paliativas” frente ao problema. 

Na quarta (17), o governo anunciou a prisão de Darío Arturo C., conhecido como “Morado”. Libertado de forma condicional apenas seis dias antes da explosão, ainda usando tornozeleira eletrônica e já suspeito do atentado, ele ainda foi encontrado em posse de uma arma utilizada no assassinato de três membros de uma mesma família na noite da segunda-feira. Um dia após a queda de Morado nas mãos das autoridades, a polícia também anunciou ter encontrado seis bombas artesanais “similares às que foram utilizadas em Cristo del Consuelo”. Segundo as investigações, por ser um material irregular, seu potencial destrutivo frequentemente acaba sendo superior ao de um explosivo simplesmente roubado do Exército, por exemplo: além da tragédia humana, a explosão danificou pelo menos 11 imóveis do bairro, com duas residências sendo consideradas inabitáveis por risco de desabamento.

Para o ministro Carrillo, não há dúvida de que a escalada da violência viu “atos de terrorismo ligados ao crime organizado transnacional”, embora a conexão exata do evento com os grupos supostamente implicados não tenha sido totalmente esclarecida até agora. Seja como for, nos últimos anos o Equador vive sob uma densa crise de segurança, com massacres prisionais entre gangues rivais que já deixaram mais de 400 mortos desde o final de 2020 – uma crise contínua que fez o governo Lasso criar, no início deste mesmo mês de agosto, uma nova Secretaria Nacional de Segurança Pública, comandada pelo ex-conselheiro de Governo Diego Ordóñez, que agora se depara com o primeiro grande desafio de sua gestão.

O temor de muitos equatorianos é que a violência atípica de episódios como o de domingo passado faça o país estar diante de um cenário de guerra aberta entre grupos narco rivais, como aquela que já é vivida no México e respinga na população civil. Na sexta-feira da semana passada (12), um desacordo entre organizações criminosas mexicanas, que também começou dentro da cadeia, transbordou para as ruas de Ciudad Juárez e teve civis como alvo principal – 11 pessoas foram mortas, a maioria sem envolvimento com qualquer lado do conflito. “A ‘normalidade’ para eles (os cartéis) é ter os cidadãos como reféns”, disse um especialista em segurança ouvido pela BBC para analisar a crise mexicana. Na equatoriana Cristo del Consuelo, onde a população já reclama que a polícia não tem permanecido no local do atentado menos de uma semana após a explosão, os “reféns” também parecem estar se acumulando. 

#Equador
Guayaquil