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"É estarrecedor. Onde está o Estado?", pergunta ex-ministro do STF sobre ataques

Integrante do Supremo por mais de três décadas, Marco Aurélio Mello vê falência do Estado ao não tomar as providências necessárias para garantir a ordem na capital do país

Lucas Ferraz, da Headline | São Paulo
#SUBVERSÃO8 de jan. de 233 min de leitura
Bolsonaristas invadem o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Superior Tribunal Federal, em Brasília. Há relatos de confronto com a polícia. Fotos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Lucas Ferraz, da Headline | São Paulo8 de jan. de 233 min de leitura

Integrante do STF (Supremo Tribunal Federal) por mais de três décadas, Marco Aurélio Mello diz ter ficado estarrecido ao ver o plenário da Corte Suprema do país, seu antigo lugar de trabalho, destruída e tomada por bolsonaristas radicais neste domingo.

Ao se aposentar do Supremo por idade, em julho de 2021, Marco Aurélio, hoje com 76 anos, foi substituído por André Mendonça, ex-advogado geral da União de Bolsonaro.

Em conversa com Headline, ainda no calor dos acontecimentos deste domingo, ele criticou a falência do Estado brasileiro ao lidar com a situação. "Sugere uma insegurança muito grande para todos nós. É algo impensável. E a repercussão internacional é péssima", disse.

A seguir, trechos editados da entrevista:

Headline — O que o senhor diz diante do que está acontecendo em Brasília?

Marco Aurélio Mello — A constatação é única: onde está o Estado? O que vi é inadmissível. A manifestação é democrática, a violência não. Onde está o Estado? E digo todo o Estado. As forcas repressivas e as Forças Armadas.

Headline — Faltou atuação da PM do Distrito Federal e também das Forças Armadas?

Marco Aurélio Mello — Faltou sobretudo inteligência. O termômetro da segurança pública é a inteligência. Eles tinham o termômetro para perceber o que deveriam fazer e não tomaram as providência. Fiquei estarrecido, faltou Estado. Não me refiro ao Estado do Distrito Federal, mas à União em si. E sugere uma insegurança muito grande para todos nós.

Headline — Eles parecem ter copiado tudo do que ocorreu no Capitólio americano...

Marco Aurélio Mello — Não, foi muito pior do que ocorreu no Capitólio americano. Porque lá houve resistência e eles não fizeram o que fizeram aqui. É algo impensável, e a repercussão internacional é péssima.

Ministro Marco Aurélio na sessão da Primeira Turma do Superior Tribunal Federal, em Brasília, em 19 de novembro de 2019. Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF
Ministro Marco Aurélio na sessão da Primeira Turma do Superior Tribunal Federal, em Brasília, em 19 de novembro de 2019. Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

Headline — O senhor fala em manifestações democráticas, mas estava claro, desde o início, que a pauta dessas pessoas era contra a democracia.

Marco Aurélio Mello — Isso cabia ao Estado, ante a perspectiva de vir ocorrer o que correu, tomar as providências. Não compreendo como se pode chegar nesse ponto sem ter realmente o acionamento da força repressiva. Se a força repressiva, a Polícia Militar, não era suficiente, que se acionasse as Forças Armadas. O que não podemos admitir, e sequer imaginei isso, é a invasão do Congresso, do STF.

Headline — O senhor vê no governo que saiu alguma responsabilidade por ter alimentado esse golpismo?

Marco Aurélio Mello — O que começa errado não termina de forma correta. E o início foi equivocado, a meu ver, quando ressuscitaram politicamente, descondenando, o ex-presidente Lula, atual mandatário. Dar o dito pelo não dito, é algo impensável, está aí a bagunça.

Headline — O senhor declarou voto em Bolsonaro na última eleição. Como eleitor de Bolsonaro, como se sente em ver eleitores dele promovendo esse tipo de ação?

Marco Aurélio Mello — Não quero saber se são eleitores de Bolsonaro ou se tem gente do PT infiltrada. Isso não calha. O que calha, e o que é importante, é a falha do Estado.

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