Conecte-se

Ideias em foco

Ideias em foco#POLÍTICA

Opinião – As Possibilidades com Tabata

Em artigo sobre as eleições municipais de São Paulo, o professor assistente adjunto de Assuntos Internacionais e Públicos da Universidade Columbia, de Nova York, abre seu voto

Flavio Bartmann, para Headline Ideias
#POLÍTICA7 de nov. de 234 min de leitura
Tabata Amaral: dos corredores do Congresso Nacional, em Brasília, à disputa pela prefeitura de São Paulo. Foto: divulgação
Flavio Bartmann, para Headline Ideias7 de nov. de 234 min de leitura

São Paulo terá eleições municipais em outubro do ano que vem. Os desafios que o novo prefeito e a cidade enfrentarão vêm de longa data e são conhecidos de todos: começando com a mobilidade urbana, muita gente passa três ou quatro horas por dia indo e vindo do trabalho; as redes municipais de saúde e de educação são ruins e, não menos importante, a violência e a falta de segurança são as maiores preocupações da população. A infraestrutura da cidade necessita de maciços investimentos. A cidade produz menos do que poderia e os paulistanos poderiam ter uma vida muito melhor.

Depois do pesadelo de quatro anos com a extrema direita miliciana no poder, o Brasil deveria ter acordado para os riscos de uma polarização que ignora as complexidades da nossa sociedade. Lamentavelmente, não é isso o que se vê. No esforço para enquadrar as eleições municipais de 2024 como mais uma briga entre os dois extremos, o que estamos vendo é o status quo se reproduzindo para conveniência dos beneficiários usuais, da esquerda ou da direita e, por preguiça, daqueles que têm a obrigação de informar a sociedade. A grande imprensa, faltando ainda um ano para as eleições, cobre a campanha como se apenas dois candidatos tivessem chances reais de vitória e, como tal, somente eles merecessem atenção.

Essas duas candidaturas que lideram as pesquisas de opinião no momento são bem conhecidas. Na direita, representando as forças conservadoras reacionárias, temos o atual prefeito, Ricardo Nunes, apoiado pelo MDB fisiológico e pelo PL Bolsonarista. Nunes, o prefeito acidental, beneficiário da morte precoce de Bruno Covas, tem feito uma administração pobre, sem iniciativas de nota. Nunes, sem dúvida, continuará com a tradição patrimonialista que tanto dano tem infligido ao país, beneficiando os interesses particulares de quem o apoia e, segundo a mesma mídia que o consagra como favorito, tolerando a corrupção.

Do outro lado temos Guilherme Boulos, porta-estandarte da esquerda barulhenta que pede muito do Estado e faz pouco, apoiado pelo PSOL, pelo PT e pelo paleolítico PCB. Boulos começou na política muito cedo, quando ainda estudante secundarista. Apesar de uma longa carreira política, pouco ou quase nada produziu e tem para mostrar. Sobre sua biografia profissional nada se sabe. A constante na sua vida política são os protestos e os movimentos reivindicatórios. Boulos, se eleito, continuará com a tradição populista de aumentar os programas assistenciais paliativos, tarifa zero por exemplo, sem promover as mudanças estruturais necessárias. 

"O Brasil deveria ter acordado para os riscos de uma polarização que ignora as complexidades da nossa sociedade."

A novidade na eleição de 2024 é Tabata Amaral.

Ao contrário de Boulos e de Nunes, Tabata não vem do privilégio. Ela é da periferia, se criou na Vila Missionária, quase em Diadema, e conhece muito bem a vida das classes D e E. Seu pai era cobrador de ônibus, sua mãe diarista. Mas ela deu duro, estudou e aproveitou as oportunidades. Poderia fazer muito dinheiro na iniciativa privada, mas optou pela vida pública. Surgiu como uma nova liderança em 2018, quando se elegeu deputada federal com mais de 250 mil votos. Não decepcionou seus eleitores que a reelegeram em 2022 com uma votação ainda mais expressiva.

Mas o mais importante é que Tabata Amaral não deve nada a ninguém e por isso pode ter o interesse de todos como prioridade. Um governo encabeçado pela Tabata poderia implementar políticas efetivas baseadas na análise detalhada dos problemas que a cidade enfrenta e das possíveis soluções, atraindo quadros profissionais altamente competentes, com o mesmo idealismo dela. Tabata pode fazer o governo que precisamos: com visão, ambição e competência administrativa.  

Para ter chances de vitória, Tabata precisa se apresentar ao eleitorado paulistano, pois a maioria não a conhece. Para ser competitiva precisa se expor logo. Precisa deixar claro que sua prioridade máxima será melhorar o dia a dia da população trabalhadora. Precisa detalhar quais são as suas posições em relação às grandes questões que a cidade enfrenta, mostrando que dispõe tanto de um diagnóstico honesto e objetivo como de soluções viáveis para serem implementadas.

Tabata deve declarar que tipo de gestores e profissionais irá trazer para a sua administração e se comprometer a governar com honestidade e transparência. Temos um ano até a eleição. Um ano para não se repetir erros do passado recente. Um ano para se construir uma opção que possa reformar a cidade de São Paulo e sacudir a política brasileira.

* Flavio Bartmann é Ph.D. em Estatísticas por Princeton e professor assistente adjunto de Assuntos Internacionais e Públicos da Universidade Columbia, de Nova York

#POLÍTICA
SÃO PAULO
ELEIÇÃO
PREFEITURA