Conecte-se

Sobre Headline

#JORNALISMO

A ENCRUZILHADA DE HEADLINE

Andrei Netto, jornalista e cofundador de Headline

A plataforma criada para impulsionar o jornalismo independente reduzirá o ritmo de publicações até dezembro, quando saberá se poderá continuar ou, ao contrário, desaparecerá

2 de out. de 234 min de leitura
2 de out. de 234 min de leitura

Headline está diante de uma encruzilhada. Projetada ao longo de 10 anos, brigando para se tornar realidade há cinco, e online no endereço headline.com.br há um – 14 meses considerando a versão beta –, a plataforma criada para agregar e impulsionar o jornalismo independente está ameaçada de desaparecer.

Por ora, Headline não acabou. Para evitar a incapacidade de honrar pagamentos, a empresa brasileira Headline News Brasil está sendo extinta. Com enorme – enorme – pesar, os membros do time, fundadores inclusive, foram dispensados de suas funções na sexta-feira, 29 de setembro, recebendo a remuneração relativa aos meses de setembro e outubro, folgas, pendências e reembosos – cofundadores serão os últimos a receber.

Aqui um parênteses: em um cenário de desafios permanentes, a equipe de editores, designer, social media e desenvolvedores foi espetacular.

Headline Newstech, a empresa orginal criada em Paris, segue seu curso. Essa “holding" – a palavra é forte demais para descrever uma estrutura simples, sem funcionários – detém a marca Headline registrada em 29 países, e investiu muito na construção do Typewriter, um sistema de gestão de conteúdo (CMS) original, sob medida, ágil, flexível e estável. Nós o consideramos único, e seria irresponsável jogar tal investimento e conhecimento fora.

O endereço headline.com.br, a marca e a infraestrutura pertencem à empresa original, registrada na França. Por isso a plataforma Headline fica no ar, no atual endereço. A home terá baixa frequência de atualização até dezembro, em um estado quase de hibernação. Parceiros produtores de conteúdo poderão continuar subindo reportagens e artigos, atualizando suas páginas e distribuindo seus links em redes sociais, se o desejarem.  

Em dezembro, Headline terá a resposta sobre a entrada de novos recursos – e, aí sim, saberemos se a plataforma seguirá em frente ou não. Então estaremos diante de duas hipóteses: (1) confirmamos a chegada de novos recursos, e voltamos a avançar, com a integração (enfim) do paywall dinâmico e do sistema automatizado de distribuição de receita aos jornalistas, ou (2) encerramos as operações.

No cenário de continuidade, a equipe de direção será diferente. Então não estarei mais no comando diário da empresa – já era hora de renovar a gestão. Sempre estarei presente e à escuta, mas nomearemos um novo diretor-geral, com autonomia, que se juntará ao diretor de operações e ao de tecnologia, e à parte da equipe que será convidada a se reintegrar.

Essa evolução da direção, se acontecer, é natural. Quem já ouviu minhas homilias lembrará de uma frase repetida à exaustão: Headline não é um projeto individual. É um projeto criado para nos ultrapassar a todos.

Headline é uma ideia que começou em 2013, em meio aos protestos de rua em Istambul, na Turquia – pouco antes do fatídico junho brasileiro. Nas paredes do centro histórico, pichações contra o regime de Erdogan denunciavam o autoritarismo do poder, a violência policial e a desinformação patrocinada pelos veículos de imprensa locais, próximos demais das elites políticas do país. Parece familiar?

Então surgiu um codinome: Indie, para jornalismo independente.

Nos últimos cinco anos, a construção se intensificou, a despeito da pandemia e de adversidades das mais variadas ordens. Nesse período, Headline foi incubada pela Station F, principal hub de startups da Europa, acelerada pela Insead, uma das maiores escolas de business do mundo, foi premiada pelo Google News Initiative na Europa e foi apoiada pela BPI France – o que, a meu ver, são chancelas à solidez do projeto tecnológico e editorial.

Aos parceiros do jornalismo independente, fica um enorme, dolorido e sincero pedido de desculpas pela desaceleração nos próximos meses. Serão meses sombrios e incertos. Nós gostaríamos que o caminho fosse estável e inabalável. Não é. É pedregoso e brutal. Mas vocês já sabiam disso.

Fica também um apelo: ainda que o pior se confirme, e que Headline venha a desaparecer, não abandonem a ideia de construir uma grande coalizão. Só unidos superaremos os nichos e seremos muito mais fortes. Só uma grande federação do jornalismo independente trará uma alternativa concreta ao jornalismo mainstream brasileiro.

E sabemos o quanto o Brasil precisa de jornalismo de fato independente. 

#JORNALISMO
JORNALISMO INDEPENDENTE
MÍDIA
BRASIL
HEADLINE