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Futuro#cidade biônica

A arquitetura do futuro: cogumelos no lugar de cimento

Se as ideias da designer Melissa Sterry se difundirem, prepare-se para ver projetos arquitetônicos mutantes e casas construídas com cogumelos

Deborah Berlinck
#cidade biônica24 de jan. de 2019 min de leitura
Visão futurística da Baía de Cingapura em 2079
Deborah Berlinck24 de jan. de 2019 min de leitura

Como a natureza projetaria uma cidade ? Foi na busca de uma resposta a esta pergunta que a inglesa Melissa Sterry lançou um dos projetos científicos mais criativos e originais: a ideia de construir “cidade biônicas”. Isto é, cidades que vão resistir melhor a eventos extremos, como furacões, incêndios ou inundações, se espelhando em como plantas e animais evoluem e se adaptam às mudanças no clima e do meio ambiente.

Melissa é a fundadora da Bionic City – plataforma que reúne cientistas, arquitetos, designers, engenheiros e artistas para pensar uma nova arquitetura e design urbano no mundo, explorando o potencial da biotecnologia, biologia e da  biomimética ( ciência que observa a natureza para que serem humanos depois possam imitar suas melhores ideias). Em entrevista à Época Negócios, Sterry diz que, como acontece na natureza, é preciso que as pessoas aceitem que o clima está mudando e que , de tempos em tempos, grandes catástrofes naturais e destruições vão acontecer.  A melhor forma de lidar com isso, diz, é repensar a forma como estamos construindo cidades e aceitar uma vida mais nômade. Isto é, aceitar o fim da ideia da permanência num só lugar. 

Você é uma designer cientista. O que é isso, exatamente ? 

Até meados dos meus 30 anos, eu trabalhava com sustentabilidade e uma gama de diferentes tipos de design, têxteis, produtos. Percebi que, para lidar com problemas da escala e da velocidade com que estamos lidando agora, é preciso realmente aprofundar. Eu essencialmente fiz a pergunta: quais são os maiores problemas que nós, como sociedade mundial, temos que enfrentar? Concluí que havia basicamente duas grandes questões: a produção de alimentos e a maneira como construímos, nos estabelecemos e criamos nossa arquitetura, de casas individuais a uma cidade. A maneira como estamos fazendo isso não está mais funcionando dentro do ambiente que está se manifestando agora. Não conhecemos a extensão, mas sabemos que a mudança climática vai ameaçar nosso modo de vida e nossos habitat. Por muito tempo nossa espécie foi principalmente nômade. Mudávamos de lugar para outro de acordo com a caça e as estações do ano. Éramos muito versáteis. Fomos capazes de acomodar mudanças radicais no clima e no habitat, períodos de frio e de calor.  Com o tempo, assumimos o controle (dos lugares) Construímos em um local usando um tipo particular de forma arquitetônica e material, e presumimos que e isso duraria. Quando um tsunami ou algum outro grande desastre destruía, simplesmente reconstruímos. Estamos agora no limiar de uma era na qual, graças à ciência e tecnologia, é possível trabalhar com novas formas de construção e  materiais .  Também temos maior capacidade de retomar uma forma mais nômade ou menos permanente de viver com o meio ambiente. Estamos olhando hoje não apenas  como reciclamos  produtos ou mesmo casas, mas desenvolvimentos urbanos inteiros. Minha especialidade é incêndio. Estudei sistemas de fogo em particular nos Estados Unidos, e observei como poderíamos viver em cenários onde o fogo é tão intenso que os edifícios são queimados até suas fundações. E fiz a pergunta: como podemos coexistir com isso?  A temporada de incêndios na Califórnia costumava durar alguns meses e agora dura o ano inteiro. Muitas comunidades não constroem em um local onde o fogo é um risco. Mas a escassez de terra se tornará maior, com mais tempestades, enchentes e mais chuvas. Há. Nós teremos, então,  que mudar radicalmente nosso modo de viver ou nos afastar desses lugares. Não vamos conseguir evitar completamente viver em lugares perigosos. Olhei para a maneira como povos indígenas na América do Norte constroem, pensam e interagem com o meio ambiente. Tenho grande respeito por eles. As soluções que eles criaram e sua arquitetura estão perfeitamente adaptadas ao ambiente. Eles têm certamente muito conhecimento. 

A mudança climática fará com que pessoas voltem a ter um estilo de vida mais nômade?

Períodos de incêndio extremos estão se tornando mais comuns e longos. Um residente de em uma dessas regiões pode, teoricamente, decidir que vai morar nestes lugares quando o risco de incêndio é menor. E vai passar algum tempo em outro lugar, quase como um pássaro Pássaros e insetos migram durante todo o ano. Arquitetonicamente, no momento em que você desafia a ideia de viver permanentemente num único local, estará olhando um cenário em que,  ao longo do tempo,  você pode se adaptar. Você poderá decidir não apenas ir para outros lugares, como mudar sua casa para outro lugar durante toda a temporada de risco. 

Isso significa que, por conta destas mudanças climáticas, vamos ver, além de mais migração, mudança na arquitetura e na forma como as pessoas constroem suas cidades?

Sim. Nômade seria uma característica. Outra coisa é a ideia da reciclagem dos edifícios  e dos  desenvolvimentos urbanos. Temos que acomodar para o fato de que,  de vez em quando,  haverá um evento que provocará enormes danos e destruições. É um ciclo de vida e morte na arquitetura. No sul da Ásia, tufões estão se tornando mais comuns e poderosos e frequentes. Temos capacidade técnica hoje para criar edifícios e arquiteturas capazes de suportar os imensos impactos. Sabemos que certos edifícios serão muito danificados ou poderão até ser totalmente perdidos. O que estamos buscando agora é como podemos desenvolver ou usar esses lugares num curto período de tempo. Hoje, quando ocorre um grande desastre natural, há muito desperdício. Um tufão deixa muitos detritos e resíduos que poluem o meio ambiente. Muito deste desperdício acaba nos oceanos, nos sistemas fluviais e assim por diante. E isso não é levado em consideração nos modelos de design.  Isso não acontece no mundo natural. Quando um grande perigo  atinge o mundo natural, tudo o que é deslocado é reabsorvido. Meu trabalho é analisar quais materiais foram usados ​​para que, quando esses desastres acontecem, as consequências sejam positivas e não negativas. Como acontece no mundo natural, podemos nos detritos de uma destruição como nutrientes que voltarão o ambiente ou serão recuperados na construção de novas arquiteturas. Estamos falando de recuperação não no nível do produto, mas em escala arquitetônica. 

Melissa 2
A designer no seu escritório em Londres

Como a natureza projetaria uma cidade?

Em nossa sociedade, somos muito acumulativos e materialistas. Isso tem uma conexão muito próxima com a ideia de permanência num lugar Milhares de anos atrás, podíamos carregar tudo o que tínhamos nas costas. Neste período em que estamos construindo cidades,  adquirimos cada vez mais coisas. Tudo estaria bem se o mundo continuasse o mesmo, porque por um longo período de tempo fomos muito bons em construir coisas que durariam. Isso está mudando agora. 

No mundo natural, morte, a reciclagem, seja uma planta ou um animal, é muito regular. Insetos vivem por um período de tempo relativamente curto. Outros animais que duram muito tempo. A materialidade não é valorizada da mesma forma que nós humanos valorizamos. O que é realmente valorizado , além da informação e da genética, é a cultura, porque no mundo natural, culturas evoluem. A sobrevivência de certos grupos de chimpanzés e baleias não é apenas uma consequência do fato de sua biologia ser adaptada a um ambiente particular, mas também ao fato de que informações são transmitidas de pai para o filho. Essa é outra maneira pela qual, no mundo natural, a sobrevivência de condições e períodos muito duros é facilitada. 

Se incorporarmos esses sistemas naturais, como seria a cidade ideal? 

A clássica cidade ocidental, essencialmente, será construída de vidro, silicone e cimento, utilizando minerais. Não tem capacidade de evoluir. Falta adaptabilidade. No mundo natural, tudo o que vive está constantemente em estado de mudança. Nós, humanos, passamos de um certo ponto em que nossos corpos essencialmente entram em um estado de degeneração até que não estamos mais aqui. O mesmo acontece com outros organismos vivos. A característica fundamental de uma cidade que toma a natureza como guia seria incorporar essa adaptabilidade. A cidade é construída para evoluir. Não seria um destino, mas uma jornada, mudando constantemente e se adaptando a um ritmo que é maior do que o presente. Poderíamos fazer comparações entre essas arquiteturas humanas baseadas em minerais e o mundo natural. Se quisermos construir com a natureza, precisamos construir arquiteturas que se adaptem a uma taxa muito maior do que a atual e que evoluam a um ritmo maior do que as arquiteturas do presente. 

Como poderia uma cidade como São Paulo, cheia de arranha-céus, ser mais adaptável a mudanças? 

Nas novas arquiteturas poderíamos, por exemplo, construir usando materiais biológicos, ao invés de materiais baseados em minerais, como o cimento. O cimento usa areia e isso não é sustentável. Há um grande problema com o fornecimento de areia em todo o mundo. A areia está entrando no mercado ilegal  e terminando em torre de edifícios. Há algumas opções biológicas diferentes no momento. Por exemplo, tijolos feitos de cogumelos que podem ser cultivados localmente.  Tijolos de cogumelo funcionariam bem em um prédio de até  dois andares, mas não num prédio alto. Então, quando pensamos em novos materiais, temos que pensar em forma e tipo. A madeira está ressurgindo. Muitas pessoas estão falando sobre a construção de arranha-céus de madeira. Minha avaliação é que podemos e devemos construir com mais madeira. Mas - e esta é a grande ressalva - a madeira é uma substância à base de carbono. Madeira queima. Você não quer construir uma torre de edifícios com madeira porque você estaria construindo uma estrutura inerentemente inflamável. Isso é muito perigoso. Mas se você está construindo um prédio baixo com madeira, essa é uma questão diferente. 

Sem cimento e sem madeira para arranha-céus altos e cogumelos e outros tipos de materiais cultivados biologicamente para prédios baixos. Isso significa que não há espaço para os arranha-céus em uma cidade como essa incorporar a natureza?

A maioria dos materiais naturais apresenta um problema quando se trata de construir arranha-céus. Blocos de cogumelos são relativamente resistentes ao fogo. Mas há risco com praticamente todos os materiais naturais e biológicos, porque eles são baseados em carbono, então eles queimam. Além do fogo,  eles também podem ser habitados por certos organismos. Esses materiais são interativos e possuem um relacionamento muito mais dinâmico com seus ambientes. Tornou-se muito popular colocar árvores e arbustos em varandas e telhados. Nos trópicos, onde os níveis de humidade são muito altos e a possibilidade de incêndio é muito baixa, é uma boa ideia, contanto que você tenha certeza absoluta de que os moradores dessas torres bloqueiem a água e mantenham suas plantas saudáveis. Neste caso, a probabilidade de um perigo é muito baixa. No entanto, estamos vendo pessoas aplicarem essa ideia a climas onde não é absolutamente seguro fazê-lo, por exemplo, lugares onde as condições são extremamente áridas. Há risco de incêndio. Outro grande risco dessas adições externas a edifícios é que, com tempestades, esses itens podem ser removidos de varandas ou telhados. Nenhuma dessas coisas está sendo mencionada no debates de propostas.  Até o dia em que acontecer um problema, quando um desses edifícios pega fogo ou quando um tipo de árvore é arrancado de uma sacada e cai sobre uma criança. Deveríamos estar prestando atenção a isso. Temos que olhar para as condições particulares dos lugares antes de construirmos. 

Em uma cidade de São Paulo, com 12 milhões de pessoas, ou no Rio de Janeiro, com 6 milhões de pessoas, como você faz para acomodar todas essas pessoas e ao mesmo tempo construir uma cidade que se abriga pela natureza? 

Na verdade, será muito difícil e acho que temos que considerar o fato de que atualmente temos algumas cidades com concentrações extremamente altas de pessoas. Precisamos pensar em quantas pessoas temos nas cidades, porque estamos vendo escassez de água. Precisamos pensar também sobre o modo como vivemos e sermos mais produtivos com o que usamos. Então, para exemplos, em vez de ter uma situação na qual a água entra no prédio, as pessoas tomam e a água é levada para o tratamento de esgoto local, podemos ter uma abordagem muito mais sofisticada e inteligente para a hidrologia de nossas cidades, onde a água entra no prédio e, na medida do possível, é reciclada.  Escassez de água na Cidade do Cabo forcou pessoas a limitarem seu consumo de água. Quando usamos água, temos que pensar mais sazonalmente. No nível pessoal, mas também no nível industrial. No momento, temos um modelo econômico e de negócios que está constantemente em plena produção. Não estamos nos acomodando ao fato de que, como no mundo natural, há fluxos e momentos em que é mais benéfico fazer algo do que outros. Não é como se estivéssemos inovando o novo. Na verdade, trata-se de relembrar como culturas indígenas e  nossos ancestrais coexistiram com nosso meio ambiente. Não devemos supor que a maneira como fazemos as coisas agora é necessariamente o melhor caminho. 

O Brasil precisaria olhar para trás como os índios lidavam com a mudança climática?

Sim, eles teriam que olhar para o ambiente deles de maneira mais geral. Voltando milhares de anos, como os povos nativos da região existiram? Alguns talvez tivessem relativa permanência por um tempo, mas quais são as narrativas em suas culturas? De que maneira lidaram com a mudança, o clima, seu ambiente de maneira geral, com  a disponibilidade de alimentos ou de água? 

Você trabalha há anos na ideia de cidades que se adaptam à natureza, as chamadas cidades biônicas. Há boas ideias hoje sobre cidades com zero carbono ou zero desperdício?

Sim, existem. Em 2009, houve uma quantidade razoável de ideias, mas, essencialmente, há mais de uma década, não dispúnhamos de muitos modelos experimentados e testados. Nós tínhamos muita teoria. Agora existem inúmeras experiências com novos materiais, sistemas de informação e elementos que precisaríamos para criar uma cidade que incorporasse os princípios fundamentais da natureza. Milhares de ideias foram testadas em diferentes graus. Algumas são relativamente sólidas e outras ainda são extremamente experimentais. Na minha opinião, estamos nos estágios iniciais de uma grande mudança material e cultural. Portanto, minha expectativa é que essa não seja uma jornada que será concluída em breve. Isso é algo que no próximo século estaremos trabalhando, tentando várias novas ideias. 

Pode dar um exemplo de uma boa ideia sobre a cidade de zero resíduos ou a cidade de zero carbono? 

Se pensarmos sobre tecnologias e experiências que poderíamos incorporar nessa aspiração de uma cidade de zero carbono, usar materiais baseados na biologia é um pré-requisito fundamental. Dito isso, temos que pensar com muito cuidado sobre o local e como vamos usar estes materiais. Por exemplo, se pensarmos em usar madeira em prédios baixos, é importante reconhecermos que existem diferentes tipos de florestas e que, em alguns casos, a integridade dessas florestas será tão danificada que terá impacto sobre esses sistemas ecológicos. No Japão, existem muitas florestas antigas que são adequadas para a extração de madeira. A maneira como usamos materiais é fundamental. No entanto, a maneira como usamos energia também é importante. Por exemplo, painéis solares funcionam bem em algumas áreas. Em outras áreas, sob certas condições, um painel solar pode provocar incêndio. Defendo proposições mistas no uso de energia. Uma das grandes áreas de desenvolvimento no momento é o monitoramento ambiental, com a integração de sistemas biológicos. Você estabelece o que é a umidade ou temperatura, não apenas por sinais elétricos, mas monitorando coisas como os níveis de umidade na biomassa local ou como as árvores estão respondendo ao ambiente, e isso é relativamente simples e nós temos a tecnologia para fazer isso . Estamos fazendo isso na escala experimental. Conhecer o seu ambiente e ser capaz de antecipar problemas é uma das principais características da adaptação. 

Assim, a cidade que se comporta como o mundo natural ou como um ecossistema é muito mais consciente como cidade, da mesma forma que uma planta está constantemente monitorando seu ambiente, noite ou dia, quente ou frio, se há precipitação ou não há. A cidade para a qual estamos começando a migrar é mais natural e é inteligente nesse sentido, porque está monitorando seu ambiente em tempo real e está respondendo a isso. 

Apesar de toda a inovação, por que a maioria das pessoas, arquitetos e urbanistas projetam cidades que vão exatamente na direção oposta: selvas urbanas, alta densidade, cheias de arranha-céus?

Existem vários motivos. Na sociedade, você tem pessoas que estão muito confortáveis ​​com a mudança de fato. Existem algumas pessoas para quem a mudança é a força vital. É sua motivação o que os tira da cama de manhã é que você sabe como o mundo está mudando e como podemos lidar com isso. Mas é claro que há apenas uma porcentagem da população. Muitas pessoas são mais conservadoras. Muitas pessoas não gostam de mudanças. E por um motivo muito válido. A mudança pode ser muito assustadora. A mudança é o desconhecido. A maioria da população tende a não aceitar a mudança a menos que seja necessário. Olhando para trás para a história, na civilização ocidental, em particular, a mudança estava acontecendo, mas havia resistência. Essencialmente nós continuamos como uma sociedade fazendo as coisas do jeito antigo, até que esse caminho desmoronou. Quando olhamos para o mundo hoje, descobrimos que politicamente as pessoas estão indo para extremos. Existe a extrema direita e extrema esquerda. É uma época de grandes transtornos e não é a primeira vez que isso acontece. Pode-se teorizar sobre o que acontecerá. Não há nada dentro do registro humano que sugira que, em um momento de tão imensa mudança, esta será uma transição suave. Estamos lidando, estamos lidando com a psicologia humana, com visões de mundo. Donald Trump tem uma percepção muito particular do mundo e essa percepção influencia as políticas que ele defende e as escolhas que ele faz.

Existe uma dose de ignorância? As pessoas percebem o que pode acontecer se não houver mudança?

Algumas pessoas resistem à mudança e acho que isso é motivado pelo medo. Não é que não sejam inteligentes. Emocionalmente,  não ficam tão à vontade com nada que possa atrapalhar seu modo de fazer as coisas. Gostam de imaginar que o mundo pode ser previsível e que podemos controlar as coisas. Na verdade, não podemos. Pessoas que estão fazendo mudanças são as pessoas que reconhecem que não podemos controlar tudo. Tudo isso se resume à psicologia humana.  Há frustração dos dois lados. Acho que, como povos, precisamos tentar encontrar uma maneira de diminuir essa lacuna, de nos relacionarmos uns com os outros, nos unirmos para tentar entender o ponto de vista dos dois lados.  Pelo menos, precisamos tentar. 

O Brasil acaba de eleger um político que, como Donald Trump, está questionando acordos globais para proteger o meio ambiente. Ele ameaçou tirar o Brasil do acordo de Paris, ameaçou abolir a agência do governo que combate o desmatamento e acabar com a demarcação da terra indígena. Ele também é apoiado pelas indústrias extrativistas e de mineração e pelo agronegócio. Como você vê isso ? O Brasil parece estar indo na direção oposta da ideia de construir cidades que acomodem a natureza.

O padrão no Brasil é muito o que estamos vendo na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e em todo o mundo ocidental. Eu não estou familiarizado com a política chinesa ou japonesa. Mas nós vemos um aumento do conservadorismo e, mais amplamente, a retórica do controle, a ideia de que podemos fazer algumas coisas sem que haja qualquer consequência adversa. A retórica em torno disso tende a ser que iremos inovar nosso caminho para sair dos problemas e inventar algo que magicamente resolve este ou aquele problema

Estão questionando a ideia básica de que a mudança climática está acontecendo e está sendo induzida por escolhas humanas. 

Sim. Mais uma vez, esta é uma retórica de controle. Estão assumindo primeiramente que a largura de banda da mudança climática é limitada. A suposição é que não vai além de um certo ponto. Isso é contrário à ciência. Não sabemos qual será o futuro do clima, porque há vários eventos diferentes que podem ocorrer. Teoricamente, pode acontecer uma erupção vulcânica  VEI 7 (Índice de Explosividade Vulcânica, que compara a violência das erupções vulcânicas), seguida por uma série de erupções VEI 6 e que entremos em outra pequena Idade do Gelo. Poderia até acontecer uma erupção VEI 8, que criaria um enorme inverno vulcânico.. As pessoas que estão abertas a mudanças e que não adotam a narrativa de controle reconhecerão em muitos casos que o futuro poderia ser várias coisas. Na política, há algo mais sombrio.  Shell e outras grandes empresas de combustíveis fósseis conheciam a mudança climática décadas atrás, nos anos 80. 

Estamos  muito longe da ideia de uma cidade biônica?

Em alguns lugares, estamos nos movendo muito rápido. O maior potencial está no mundo emergente, provavelmente, na África, porque é como uma tela limpa. Está sendo construída do zero. Politicamente, este é um momento muito dinâmico e imprevisível. Isso cria resultados imprevisíveis. Em alguns lugares, o dinamismo político pode, de fato, acelerar a mudança. Em outros lugares, o conservadorismo vai manter essa ideia de que podemos continuar a fazer as coisas como antes. Alcançamos muito no nível da ciência e tecnologia. Temos  protótipos e sabemos como fazer essas invenções para uma mudança. O que efetivamente não temos no momento é realmente o espaço para fazer isso além do laboratório. A introdução de novos materiais e formas de construção é um processo muito difícil. 

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