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Sob múltiplas denúncias, ministro Juscelino Filho adota silêncio conveniente

Acusado de ocultação de patrimônio, uso de avião da FAB e diárias para fins privados e de aplicar o "orçamento secreto" em prol da família, ministro daria entrevistas, mas voltou atrás

Andrei Netto, da Headline | Porto Alegre
#POLÍTICA1 de mar. de 234 min de leitura
Andrei Netto, da Headline | Porto Alegre1 de mar. de 234 min de leitura

Juscelino Filho, deputado eleito pela União Brasil (UB) do Maranhão, e escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo de ministro das Comunicações, preparava-se para uma bateria de entrevistas para veículos de informação brasileiros durante sua viagem oficial a Barcelona, na Espanha, para participar do World Mobile Congress, um dos maiores eventos de tecnologia do mundo. Era uma rara oportunidade de agenda positiva, arruinada por mais uma denúncia de mau uso do dinheiro público.

O episódio aconteceu na manhã de segunda-feira, quando assessores do governo Lula 3 e do Ministério das Comunicações ofereceram entrevistas do ministro às margens do evento na Espanha. "O ministro das Comunicações, Juscelino Filho participa do Mobile World Congress, em Barcelona, e falará sobre 5G no Brasil, entre outros desafios", anunciou um assessor de imprensa em um grupo de correspondentes internacionais brasileiros na Europa. "Caso alguém tenha interesse em falar com o ministro, por favor, avise."

Headline então solicitou uma entrevista e foi orientado a entrar em contato diretamente com o assessor do ministro. O profissional pediu detalhes da pauta da entrevista e prometeu uma resposta em instantes. "Certo. Já retorno", respondeu ainda na segunda.

Instantes depois o jornal O Estado de S.Paulo publicou uma reportagem na qual afirmou que o ministro usara um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para se deslocar de Brasília à São Paulo por razões urgentes. Ele deixou a capital federal em 26 de janeiro, participou de compromissos oficiais durante 2h30, e permaneceu na cidade até o dia 30 de janeiro. No intervalo, inaugurou uma praça em homenagem a um cavalo de seu sócio, participou de um evento equestre e recebeu um prêmio de criadores de cavalos que organizavam o encontro.

Apaixonado por cavalos – seu único projeto de lei no Congresso Nacional em 2022 foi a criação do Dia do Cavalo –, Juscelino Filho também ocultou da Justiça Eleitoral um total de R$ 2,2 milhões em animais de raça, bens que deveriam ter sido declarados à Justiça Eleitoral, mas não o foram, segundo revelou O Estado de S.Paulo.

Diante das novas acusações, que se somam a outras por mau uso de dinheiro público, o ministro recuou na intenção de conceder entrevistas. Segundo sua assessoria, a agenda do ministro é "dinâmica" e inferir que Juscelino Filho passou a evitar a imprensa seria "uma interpretação incorreta dos fatos".

Orçamento secreto

O ministro já vinha enfrentando dificuldades para responder às acusações de conflitos de interesse na distribuição de recursos do "orçamento secreto", beneficiando sua família no Maranhão. Juscelino Filho havia direcionado cerca de R$ 50 milhões em emendas parlamentares para a região na qual reside sua família, na região rural de Vitorino Freire, ainda segundo o Estadão.

Desse total, R$ 5 milhões foram destinados a asfaltar uma estrada de terras que passa entre as propriedades de sua família. Outros R$ 16,4 milhões foram destinados em "emendas do relator" – o nome oficial do "orçamento secreto" – para obras na cidade de 30 mil habitantes, que lhe serve de berço político no Maranhão.

Ontem, a Folha de S.Paulo indicou que o ministro também vem agregando diárias aos seus vencimentos. Seriam R$ 34,2 mil desde o início de seu mandato à frente do ministério ao longo de duas viagens internacionais, a Portugal e à Espanha, além de São Paulo e São Luiz, no Maranhão.

A postura e as práticas do ministro destoam do discurso público feito pelo presidente Lula, que vem usando as más condutas no governo do seu antecessor para se contrapor a Bolsonaro.

Headline aguardou até a noite de ontem um retorno sobre o pedido de entrevista, mas não obteve resposta. O espaço continua aberto, não apenas para que o ministro esclareça as denúncias, mas também fale a respeito de eventuais avanços concretos de sua pasta na Mobile World Congress, ou a respeito dos planos de governo para a área das Comunicações – outro assunto que até aqui mereceu poucos esclarecimentos.

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