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Lula entre o jornalismo, o ativismo e a influência digital

Lucas Ferraz, da Headline | Brasília

Confusão entre o jornalismo que segue ritos e padrões profissionais e o ativismo que busca influenciar seguidores ficou evidente no café com Lula no Palácio do Planalto

8 de fev. de 236 min de leitura
8 de fev. de 236 min de leitura

Ao final de quase uma hora e quarenta minutos de café com Lula no Palácio do Planalto, a youtuber mineira Laura Sabino se acercou do presidente, como alguns dos presentes, para pedir uma foto. Ao lado dele, visivelmente emocionada, ela sugeriu uma pose um tanto ousada: que o presidente encostasse de costas nela, que ficaria na mesma posição, e assim os dois olhariam juntos para a lente, como costumam fazer as celebridades.

Quem estava na frente dos dois, pronto para a foto, era Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial de Lula, que vetou a posição sugerida por Sabino. A foto, reproduzida nesta página e que logo depois ganharia as redes sociais, é uma pequena mostra do que foi o encontro do presidente com jornalistas da chamada "mídia independente", expressão ainda um tanto volátil e que cabe um pouco de tudo, como ficou claro no café da manhã organizado em Brasília nesta terça, 7, com 40 jornalistas e influenciadores de diferentes veículos, entre os quais Headline.

Em 12 de janeiro, um evento semelhante foi realizado com órgãos — brasileiros e estrangeiros — da chamada mídia tradicional.

Estavam presentes nesta terça veículos — sites, blogs, revistas e canais de YouTube — de diferentes perfis. Alguns deles têm uma longa lista de bons e sérios serviços jornalísticos, como Agência Pública, Repórter Brasil, Intercept Brasil e Ponte Jornalismo. Outros são conhecidos pela atuação à esquerda e extremamente simpática ao lulismo, como Brasil 247, DCM e Fórum. E havia ainda jovens de diferentes regiões do país que atuam não como jornalistas, mas sim como influenciadores ou ativistas. Laura Sabino, por exemplo, resume sua atuação no Twitter da seguinte forma: "Meu trabalho é tirar o jovem do seio do liberalismo e jogar nas tetas de Marx".

A YouTube mineira posa com o presidente Lula em café com jornalistas membros da mídia independente e alternativa, no Palácio do Planalto, em 7 de fevereiro. Fotos: Ricardo Stuckert/Divulgação Presidência da República
A YouTube mineira posa com o presidente Lula em café com jornalistas membros da mídia independente e alternativa, no Palácio do Planalto, em 7 de fevereiro. Fotos: Ricardo Stuckert/Divulgação Presidência da República

Também estava presente Renê Silva, fundador do jornal comunitário Voz das Comunidades, com foco nas favelas do Rio de Janeiro, e que teve atuação ativa na campanha eleitoral de Lula no ano passado. Ele foi responsável por levar o então candidato ao Complexo do Alemão e ficou próximo da agora primeira-dama Janja. Após o café, os três posaram juntos para fotos — que logo também iriam para as redes.

A confusão entre o jornalismo que segue ritos e padrões profissionais e o ativismo que busca influenciar seguidores ficou evidenciado no crachá distribuído aos presentes no Palácio do Planalto, ainda avariado por causa das invasões de 8 de janeiro: "Café da manhã com influenciadores".

José Chrispiniano, secretário de imprensa de Lula e responsável por escolher quem iria fazer as perguntas ao presidente (apenas oito dos 40 presentes), reconheceu após o evento o erro de classificar membros da mídia independente como "influenciadores", confusão que, segundo ele, se deve a diferentes interpretações sobre mídia independente ou alternativa. Mas ele defendeu a presença no café da manhã de youtubers e afins, justificando que eles também produzem "conteúdo".

A atenção da equipe de Lula às redes sociais e os efeitos gerados por esses influenciadores não é novidade, mas a tendência parece ser a de se criar uma relação contínua com alguns deles, chamados inclusive para agendas em Brasília nesta semana com outros integrantes do governo. São agendas políticas, e não jornalismo, razão de ser de alguns dos veículos convidados para o café da manhã.

A assessoria de Lula havia informado que nesta quarta, 8, seria realizado no mesmo Palácio do Planalto um encontro com influenciadores, apenas, mas o evento não entrou na agenda do presidente.

O próprio Lula notou certos "excessos" por parte de alguns dos presentes. O historiador e cientista político Carlito Neto, responsável pelo canal no YouTube "O historiador", foi um dos oito — entre os 40 presentes — agraciado com o direito de fazer uma pergunta (Headline não estava entre os oito). Neto chamou a atenção para a maneira como a mídia tratava — com má vontade ou distorção — as notícias referentes ao governo e ao próprio presidente.

Ele perguntou: "Controlar a narrativa não seria uma forma de enfrentar isso?". Ele quis saber de Lula e do ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, também presente no café da manhã, se o governo não poderia ter "o controle da informação como ela sai".

Jornalistas e "influenciadores" posam para foto coletiva no café com o presidente. Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação Presidência da República
Jornalistas e "influenciadores" posam para foto coletiva no café com o presidente. Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação Presidência da República

O presidente usou a pergunta para ironizar as histerias do "mercado", crítica que tem repetido com frequência nos últimos dias, e reforçar seu compromisso no combate à fome, mas deixou as coisas claras: "É muito difícil você imaginar que o presidente da República pode controlar a vontade de falar das pessoas que querem fazer crítica ao governo".

Relação dos presentes:

1- MARIANA TORQUATO / VAI UMA MAOZINHA AÍ

2- MATHEUS ALVES / ALMA PRETA

3- LAURA SABINO

4- LAÉRCIO PORTELA / MARCO ZERO

5- CRISTIANE SAMPAIO / BRASIL DE FATO

6- MARCO QUEIROZ / REVISTA JACOBIN

7- ANA MAGALHÃES / REPÓRTER BRASIL

8- CARLITO NETO / O HISTORIADOR

9- TEREZA CRUVINEL / TV 247

10- JOSÉ FERNANDES / PORTAL DO JOSÉ

11- MIGUEL DO ROSÁRIO / O CAFEZINHO

12- LUIS EDUARDO GOMES / SUL 21

13- SYLVIO COSTA / CONGRESSO EM FOCO

14- RAFAEL DUARTE / AGÊNCIA SAIBA MAIS

15- LUCAS FERRAZ / HEADLINE

16- HELIO DOYLE / PRESIDENTE DA EBC

17- RENÊ SILVA DOS SANTOS / VOZ DAS COMUNIDADES

18- ANA LESNOVSKI / METEORO BRASIL

19- JÔ MIYAGUI / TVT

20-MARIELLE RAMIREZ PINTO / MÍDIA NINJA

21- ANTÔNIO JUNIÃO / PONTE JORNALISMO

22- ALTAMIRO BORGES / BLOG DO MIRO

23- NATALYA SANTARÉM SANTOS / CRÍTICA BRASIL

24- RENATO ROVAI / REVISTA FÓRUM

25- LUCIANA LIMA / CANAL MEIO

26- EDUARDO GUIMARÃES / BLOG DA CIDADANIA

27- LUIS COSTA PINTO / BRASIL 247

28- ALICE MACIEL / AGÊNCIA PÚBLICA

29- LEANDRO FORTES / DCM

30- NAPOLEÃO DE CASTRO / REVISTA NORDESTE

31- RAFAEL MORO MARTINS / INTERCEPT BRASIL

32- GEREMIAS DOS SANTOS / ABRAÇO

33- HAROLDO CERAVOLO SEREZA / ÓPERA MUNDI

34- RONNY TELES

35-GILDA CABRAL / INSTITUTO CULTIVA

36- BÁRBARA LIBÓRIO / REVISTA AZMINA

37- JEFFERSON BORGES / NORDESTE EU SOU

38- ELEONORA LUCENA / TUTAMEIA

39- JOÃO ANTÔNIO MASQUES / PORTAL CLICK POLÍTICA

40- PAULO SALVADOR / REDE BRASIL ATUAL

Errata: Ao contrário do publicado anteriormente, Jair Bolsonaro realizou sim encontros com a imprensa, inclusindo cafés da manhã com jornalistas, durante seu mandato.

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